As mulheres modernas estão decidindo pela maternidade em idades cada vez mais avançadas, tornando os casos de câncer na gravidez mais comuns e sendo o tumor de colo uterino uma das neoplasias mais frequentes neste contexto. A associação entre câncer cervical e gravidez é um desafio para mulheres e especialistas, envolve questões médicas, pessoais, éticas e legais. Portanto as decisões terapêuticas devem ser individualizadas e definidas por um grupo multidisciplinar.
Na tomada de decisão, o prognóstico da mãe deve ser a prioridade. Não se trata de uma emergência médica. A equipe deve gastar todo o tempo necessário para estudar detalhadamente o caso e oferecer a melhor conduta. Essas pacientes devem, sempre que possível, ser tratadas em centros especializados com suporte obstétrico e uti neonatal.
O período gestacional ao diagnóstico é muito importante para definição do início e tipo de tratamento. Exames de imagem, como ultrassonografia e ressonância magnética, devem fornecer as informações necessárias ao estadiamento correto da doença, sem prejudicar o feto ou a gestação.
Se a paciente não deseja manter a gravidez, o tratamento é semelhante ao de não grávidas. Se houver desejo de manter a gravidez após 20-25 semanas de gestação e tumor bem inicial, pode-se acompanhar até o término da gravidez e realizar o tratamento cirúrgico definitivo. Para tumores mais avançados, a melhor opção é a quimioterapia neoadjuvante até resolução da gravidez e posterior tratamento definitivo, com controle temporário da doença sem prejuízo maior ao feto.
Nos casos de gestação antes das 20 semanas, se o tumor for bem inicial (Ia1), apenas conização é suficiente. Se tumores um pouco mais avançados (Ia2-Ib3), traquelectomia e linfadenectomia pélvica estadiadora devem ser realizadas. Nesses casos considerar quimioterapia neoadjuvante à base de platina até 3 semanas antes do parto e posterior complementação do tratamento. Se doença localmente avançada, conversar com a paciente sobre a interrupção da gestação pelo risco de progressão da doença, ou iniciar quimioterapia neoadjuvante precocemente (após 14a semana de gestação) e interrompendo a gravidez o mais cedo possível (32ª semana).